segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Manual de Instrução das Passeatas Estudantis

Medidas preventivas contra gases:


a)    Ir de jejum, só bebendo líquidos ou leite em pequena quantidade;

b)    Pastilhas efervescentes na boca para anular o efeito do gás;

c)    Lenço tapando o nariz;

d)    Bicarbonato de  Sódio ou leite de magnésia em torno dos olhos;

e)    Atirar contra a bomba um vidrinho de amônia.



Essas dicas foram extraídas do manual distribuído pelo comando intelectual do Movimento Estudantil, que orientava os participantes de passeatas a se protegerem dos ataques da polícia.
A citação faz parte do texto Os passos da paixão, que aborda a importância das manifestações no combate e resistência ao governo militar

MESSIAS MATHEUS

Um Congresso Inesquecível

Manhã de sábado. Dia 12 de outubro de 1968. Chove.

A polícia invade o sítio Murundu, em Ibiúna, interior de São Paulo e prende um número de estudantes que varia, conforme a fonte, de 750 a mais de 1500, e põe fim ao 30º congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes). O fato é narrado em O vale da insensatez.

A pacata cidade cravada entre as montanhas foi escolhida pelos líderes do movimento estudantil, pela tranquilidade oferecida e por ser distante do centro urbano. Porém, a estratégia não conseguiu passar despercebida perante os olhos dos investigadores da polícia.

No sítio foi montada uma estrutura com cabanas, banheiros e alojamentos improvisados para abrigar os jovens vindos de diversas regiões do país. A situação era precária, a comida escassa e algumas pessoas ficaram doentes, mas mesmo assim o congresso foi iniciado.
           Com a brusca intervenção da polícia, todos foram presos. Os organizadores e os proprietários do sítio foram interrogados, e na cadeia sofreram torturas psicológicas e físicas. Apesar de tudo, o evento ainda é visto como exemplo de resistência e ousadia para os padrões da época.

 MESSIAS MATHEUS 

Os 3 Ms de 68



“A geração de 68 talvez tenha sido a última geração literária do Brasil – pelo menos no sentido em que seu aprendizado intelectual e sua percepção estética foram forjados pela leitura. Foi criada lendo, pode-se dizer, mais do que vendo.”

O trecho citado acima é o primeiro parágrafo do capítulo intitulado, Muitas ideias na cabeça. No texto, Zuenir Ventura traça um paralelo entre a geração de jovens do final da década de 1960, com as gerações seguintes.

Segundo o autor, os jovens de 68 não tinham a TV (que na época, já tinha 18 anos de instalação no país) como referência comportamental ou ideológica. O cinema e a música eram os grandes influenciadores dessa geração.

Zuenir ressalta a importância dos livros para a formação intelectual, moral e revolucionária dos jovens brasileiros. Grandes nomes da literatura universal eram devorados por uma geração sedenta por justiça, igualdade e liberdade. Entre os autores mais lidos, destacam-se os 3 Ms: Marcuse, Marx e Mao. Os três autores inspiravam debates acalorados nos colégios, universidades e nos bares frequentados por jovens que sonhavam mudar o mundo.



MESSIAS MATHEUS

domingo, 5 de dezembro de 2010

Sobre o autor

Zuenir Carlos Ventura nasceu no dia 1° de junho em Além Paraíba, na Zona da Mata mineira. Já foi professor de português e hoje é considerado um dos grandes jornalistas do país. Colunista de O Globo e da revista Época, autor da reportagem do Jornal do Brasil que em 1990 pavimentou a condenação dos assassinos de Chico Mendes, é formado em Letras e a início queria ser apenas professor, mas acabou sendo fisgado pelo jornalismo em 1956.

É o conceituado autor de obras como 1968 – O Ano que Não Terminou, editado há vinte e dois anos, quando a geração das Diretas Já revisava seus mitos fundadores. Tal livro serviu de inspiração para a minissérie Anos Rebeldes, produzida pela Rede Globo, cuja abertura você confere aqui.

Em 1995 ganhou o Prêmio Jabuti na categoria reportagem pelo livro Cidade Partida, que trata da guerra entre a sociedade do Rio de Janeiro contra os bandidos da favela de Vigário Geral, conflito este que resultou no movimento Viva Rio.

Aos 76 anos, Zuenir Ventura lançou 1968 – O que Fizemos de Nós pela editora Planeta. Saboroso tema, com o contraste de gerações de seus filhos e netos.

“AI-5: O Golpe dentro do Golpe”


No livro 1968: O ano que não terminou, Zuenir Ventura faz uma reconstrução de um dos anos mais contraditórios e fascinantes da história. De uma maneira íntima, o autor, que foi testemunha dos fatos, nos revela profundamente os principais acontecimentos daquele ano em seu romance de não ficção.
No país, após a concentração do poder cair nas mãos do general Artur da Costa e Silva, a classe desfavorecida com a ditadura resolveu agir através de manifestações e protestos. 1968 foi o grande ano de contestação, sobretudo dos jovens, que acreditavam que aquele era o tempo de mudar.
Após a adesão do movimento de revolta por milhares de pessoas (destaque para a Passeata dos Cem Mil em 26/06/1968) o governo se sentiu acuado e começou a atacar matando muitas pessoas, o que aumentou ainda mais o sentimento de revolta da população.
Em meio à luta população X governo, Costa e Silva decretou o Ato Institucional nº5 (AI-5), uma espécie de lei que dava poderes totais ao general presidente para: Fechar o Congresso Nacional por tempo indeterminado, suspender os direitos políticos e suspender garantias legais.
O AI-5 foi uma espécie de golpe dentro do golpe, porque a ditadura que começou em 1964 se tornou mais rigorosa ainda em 1968 (nenhuma espécie de oposição seria tolerada). Os movimentos revoltosos se extinguiram, porque ninguém estava disposto a ser baleado.
Zuenir Ventura nos convidou a um passeio pela história “nua” e “crua”, sem máscaras, e com sua experiência dos fatos, nos mostrou o quanto era difícil qualquer liberdade de expressão em meio à ditadura, e também a importância de lutar. O AI-5 foi um decreto severo que pretendeu calar a voz de todo aquele que a levantasse contra o general. Mas após um período ruim, esse ato não pode sufocar o desejo de liberdade do povo brasileiro.



Conheça o livro "1968- O ano que não terminou"

O livro 1968: O ano que não terminou foi escrito em 1988 pelo jornalista Zuenir Ventura. Na obra o autor narra vários episódios verídicos acorridos no ano de 1968. A narrativa tem como pano de fundo a censura militar durante a ditadura, reflexo do golpe de 64.

O primeiro capítulo, O rito de passagem narra o badalado réveillon promovido pelo casal Luís e Heloísa Buarque de Holanda em sua mansão. O evento reuniu nomes da alta sociedade carioca, além de artistas e jornalistas. A festa foi marcada por debates acalorados entre os intelectuais presentes, regada de bebidas alcoólicas e um clima de sensualidade exacerbada entre os casais. O ambiente de euforia e ao mesmo tempo de incerteza marcou a vida dos presentes e, pois fim a uma trajetória de liberdade e idealismo.

Daí pra frente, o autor conta histórias envolvendo a censura no teatro e nos meios de comunicação, as passeatas estudantis, a perseguição aos artistas, a disputa política e as ações do Dops. O livro-reportagem é dividido em 4 partes e possui 27 capítulos. A obra contendo os relatos do final da década de 1960 foi escrita e publicada 20 anos após os acontecimentos. Para compor o trabalho, o autor pesquisou revistas e jornais da época, além de entrevistar personalidades que vivenciaram ou protagonizaram os fatos.


MESSIAS MATHEUS